“Subirei
ao altar do Senhor”.
“Vocação, lançar-se, entregar-se nos braços
do Amor.”
Quanta alegria ao subir neste altar nessa data. Há três
anos repito essa frase por que há quatro anos subia este altar para ser
consagrado. Pelo sacerdócio ministerial vemos expressar de forma extremada o
amor de Deus, e mais ainda, o valor que temos aos olhos de Deus isto por que cada vocação ao
sacerdócio tem a sua história individual, relacionada com momentos bem precisos
da vida de cada um. Quando chamava os Apóstolos, Cristo dizia a cada um:
«Segue-Me!». Desde há dois mil anos que Ele continua a dirigir o mesmo convite
a tantos homens, particularmente aos jovens. Às vezes chama de modo
surpreendente, embora nunca se trate de um chamamento totalmente inesperado.
Mas, habitualmente, o convite de Cristo a segui-l’O é preparado num longo
período de tempo.
Na liturgia da Palavra de hoje vemos que Deus se revela a Jeremias
e lhe dá a missão de destruir, arrancar e plantar a justiça divina. Jeremias
objeta dizendo que não sabe falar. “Ah! Senhor Deus, eis que eu não sei falar,
porque ainda sou uma criança”. E Deus mesmo lhe diz: “Não tenhas medo...”.
“Antes mesmo de te formar no ventre materno, eu te conheci; antes que saísses
do seio, eu te consagrei. Eu te constituí profeta para as nações”.
O sacerdócio é uma vocação,
particular: «Ninguém se atribua esta honra, senão o que for chamado por Deus».
A Carta aos Hebreus refere-se ao sacerdócio do AT, mas para iniciar na
compreensão do mistério de Cristo Sacerdote: «Cristo não Se atribuiu a glória
de tornar-Se sumo sacerdote, mas recebeu-a d’Aquele que Lhe disse: (…) Tu és
sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedec». Por isso e muito mais,
inimaginável aos nossos olhos, que esta data é para mim, motivo
de muito júbilo e satisfação, além da ação de graças pelo meu 4º ano de vida
sacerdotal, ter sido escolhido por Deus, também sempre mais na constatação de
que a glória de Deus está inscrita na ordem da criação e da redenção; por isso
o sacerdote é chamado a viver este mistério em toda a sua profundidade, para
participar no grande officium laudis que incessantemente se realiza no
universo. Só vivendo profundamente a verdade da redenção do mundo e do homem, é
que ele poderá aproximar-se dos sofrimentos e problemas das pessoas e das
famílias, e afrontar também a realidade do mal e do pecado, sem temor e com as
energias espirituais necessárias para superá-la. Quanta graça da parte de Deus,
que tudo isso nos confia.
Neste processo de chamamento não podemos nos esquecer que
a iniciativa é sempre de Deus, é Ele quem chama, escolhe e envia, apesar de
nossas limitações, de nossas fragilidades. Hoje canto, como canta Frei Rinaldo,
“a alegria do chamado, Sacerdote para sempre quero ser, seu ministro, um amigo
do seu lado, que apascenta, profetiza e faz viver...”. Não importa a que somos
chamados, mas é preciso contar sempre com a graça de Deus e ter a plena
consciência de que “este tesouro”, isto é, este ministério, esta tarefa, este
serviço “o trazemos em vasos de barro”,
isto para que, como nos diz São Paulo, este
incomparável poder seja de Deus e não nosso”.
Assim,
aproveitamos para dirigir uma palavra especial aos jovens e às jovens no
sentido de recordar-lhes que é bela a vocação, o chamado ao Sacerdócio e à Vida
Consagrada, recordar-lhes que ambos, são também formas concretas de realização
pessoal; que a consagração total ao Senhor e ao seu Evangelho traz muita
alegria, não sem incompreensões e, às vezes, perseguições, não muito diferente
da vida matrimonial, mas foi Jesus mesmo quem nos garantiu: “Em verdade vos digo: todo aquele que deixa
casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos e campos, por causa de mim e do
Evangelho, recebe cem vezes mais agora, durante esta vida... e, no mundo
futuro, vida eterna”. Assim, Jesus não nos engana, não nos garante uma vida
fácil, sem dificuldades, sem tribulações e sem perseguições, mas nos garante: “No mundo tereis tribulação, mas tende
coragem, eu venci o mundo” .
No famoso livro “Pequeno Príncipe” há
uma frase que nessa ocasião muito nos fala: “Quando o mistério é muito grande a
gente não ousa desobedecer” (Saint Éxupery). Assim é o ministério sacerdotal: resposta,
entrega e acolhimento. Não que o mistério seja incompreensível, mas que é
bonito demais para querer explicar com palavras. Basta obedecer e acolher a
grandeza que nos é oferecida.
Já nesses 4 anos posso dizer: é muito bom e
belo ser sacerdote, é esplêndida a vocação sacerdotal, mesmo sabendo que o
nosso chamado se deu sem mérito algum de nossa parte. Sou feliz por ser
sacerdote e, não sou mais por causa de minhas muitas limitações que me levam às
vezes a fazer o que não quero, o que não desejo, o que detesto, contrariando
Aquele que me chamou pelo nome e que me disse tu és meu (cf. Is 43,1). Nestes
momentos sinto a mesma inquietação de São Paulo que disse: “não faço o bem que quero, mas pratico o mal que não quero”.
Hoje, mais
uma vez, confirmo o meu “sim” a Deus que me chamou “pelo nome” e à Igreja que
me escolheu para o Ministério Sacerdotal, me permitindo subir ao altar do
Senhor, e a Ele oferecer meu louvor, aqui junto aos postulantes, meus formandos e a vocês filhos da Virgem
Senhora do Rocio, em União da Vitória.
Concluo com alguns
versos desta canção:
Subo ao altar de Deus que é a alegria da minha
juventude
Subo silenciosamente
Com o coração alegre e cheio de temor
Pois sei onde o Senhor me levará...
Subo silenciosamente
Com o coração alegre e cheio de temor
Pois sei onde o Senhor me levará...
Ouvi a Tua voz por isso estou aqui
Senti o Teu chamado então me decidi
E me lanço, me entrego nos braços do Teu amor
Pois nesse amor quero permanecer.
Senti o Teu chamado então me decidi
E me lanço, me entrego nos braços do Teu amor
Pois nesse amor quero permanecer.