Subo
ao altar de Deus que é a alegria da minha juventude / Subo silenciosamente...
Como
Maria cantou no Magnificat, “o Senhor fez em mim maravilhas...” hoje eu também
canto: o Espírito Santo fez, faz e fará muitas maravilhas em minha, em nossas
vidas! Que alegria celebrar essa Santa Vigília de Pentecostes, uma feliz
espera: esperar porque quem prometeu é fiel, esperar orando, porque o Espírito
Santo é imprevisível, por isso estamos nessa noite em vigília: se sabe que Ele
vem, mas não se sabe de onde nem aonde nos levará, por isso subo ao Altar de
Deus com o coração alegre e cheio de temor,
como subia há seis anos na Catedral Sra. Auxiliadora em Eunápolis-BA para minha
ordenação sacerdotal. É necessário, pois, abrir-se à ação do
Espírito Santo, e ninguém melhor que Maria para nos ajudar. Maria era a mulher
que sabia da fidelidade de Deus, de como Ele faz possível o que para nós é
impossível. Ela tinha aprendido a guardar no seu coração tudo o que Deus lhe
manifestava. Ela estava no cenáculo, também naquele dia, para rezar com a
Igreja primitiva.
Chega, então, a hora: o Espírito vem! Dá-se uma mudança
interior no coração de toda essa gente que desde o acontecimento do calvário não
podia sair dos seus medos e inseguranças. Com a chegada do Espírito Santo todos
esses homens e mulheres começam a escutar a Deus e a falar de Deus: “Se
encheram do Espírito Santo e começaram a falar em línguas estrangeiras, cada um
na língua que o Espírito lhe sugeria”. Nesse momento foi como se os discípulos
abrissem uma janela para o mundo no local no qual estavam com as portas
fechadas. Ao contrário da torre de Babel, com a qual os homens tratavam de
construir sua própria maravilha para conquistar a esse Deus que não podiam
arrebatar ou quando comeram a fruta proibida do Jardim do Paraíso para serem
iguais a Deus, agora em Jerusalém as maravilhas que uns homens pregavam, mesmo
falando línguas diferentes, eram as de Deus. Línguas diferentes que, longe de
confundirem, eram as justas e necessárias para que os discípulos se fizessem
entender por todos.
Como em Maria Santíssima, o Espírito realiza em nós
também uma obra admirável. Realizou em mim há seis anos, quando nessa hora me
ungia e me consagrava, fazendo-me Sacerdote. Enquanto o Senhor Jesus nos
concede a coragem e Paz, o Espírito Santo nos faz experimentá-las, de fato. O
discípulo supera o medo ao se entregar à fé e ao amor de Cristo e nas suas
palavras. O Espírito que habita em nós infunde-nos coragem, espanta as trevas
da mentira e inunda a alma da luz da verdade. A paz de Cristo é o antídoto
poderoso contra o veneno paralisante do medo. Nós acolhemos esta paz e a
alegria que vêm do Senhor quando conseguimos superar o apego a nós mesmos e nos
libertamos da escravidão causada pelo egoísmo, pela arrogância da razão que
quer tudo controlar, e pelo culto idolátrico do próprio eu.
Quando fui chamado ao sacerdócio não imaginava quão
imenso era este dom, o chamado foi meio que do nada, no cotidiano da vida! Após
ser ordenado sacerdote percebi “como é grande o padre! (…) Se lhe fosse dado
compreender-se a si mesmo, morreria. Depois de Deus, o sacerdote é tudo! (…)
Ele próprio não se entenderá bem a si mesmo, senão no céu”, como afirmou o
santo Cura D`Ars. O sacerdote não possui nada de extraordinário humanamente
falando. Ele é um homem retirado do meio dos homens, homem das dores acostumado
em meio às mesmas dores dos seus semelhantes.
Há quem se pergunte se o padre é feliz, se o padre é
realizado, se ele aguenta a solidão ou o celibato. O padre é um pouco do que
ele consegue se construir ao longo de sua vida, com suas experiências, com o
tempo de formação no seminário, mas também é um pouco do que a comunidade lhe
proporciona ser. Aqui há quase três anos digo que há, já, um tanto de vocês em
mim e espero que de mim em vocês. Ninguém passa na vida do outro por acaso,
como diz o poeta. Sempre leva um pouco de nós, sempre deixa um pouco de si.
Aqui devo agradecer a todos, afinal são meus filhos: sou um pouco daquilo que ajudam
a fazer de mim. Obrigado por forjarem um sacerdote em busca de ser conforme o
Coração de Jesus e o sonho de Deus. Ainda que não percebam, vocês são
instrumento de Deus na minha vida, por isso eu sou grato a Deus e a todos.
Hoje,
socialmente é um dia em que deveria ganhar presentes, rsrsrsrs... assim, peço-vos:
rezem comigo pelas vocações sacerdotais e religiosas. São João Maria Vianney,
patrono de todos os padres, faz um apelo dramático para que se rezem pelas
vocações, afirmando que se uma paróquia ficar sem padre por 20 anos, ali logo
se adorará às bestas! Pedi, disse Jesus, pedi ao dono da messe para que envie
trabalhadores... e faltam trabalhadores, faltam operários!
Caros
filhos, que à luz desta Palavra de vida se torne ainda mais ardente e intensa a
oração, que no dia de hoje elevemos a Deus em união espiritual a Virgem Maria,
Sra. de Pentecostes. A Virgem da escuta, a Mãe da Igreja, obtenha para nós e
nossas comunidades, pastorais e movimentos e todos os cristãos uma renovada
efusão do Espírito Santo Paráclito. “Enviai o vosso Espírito, tudo será
recriado e renovareis a face da terra”. Amém!