quinta-feira, 23 de junho de 2011

HOMILIA NA SOLENIDADE DO CORPO E SANGUE DE CRISTO – CORPUS CHRISTI – 23/06/11

IGREJA SÃO SEBASTIÃO – BELMONTE/BA
Caríssimos irmãos e irmãs, na presente Solenidade que celebramos rezemos com Santo Tomás de Aquino (digamos juntos – lentamente e contemplando palavra por palavra) “ó precioso e admirável banquete, fonte de salvação repleto de toda suavidade! Que há de mais precioso que este banquete? Nele, já não é mais a carne de novilhos e cabritos que nos é dada a comer , como na antiga Lei, [o antigo Testamento], mas é o próprio Cristo, verdadeiro Deus, que se nos dá em alimento. Poderia haver algo de mais admirável que este sacramento?”.
Pois bem, celebramos nesta quinta-feira a solenidade de “Corpus Christi” este precioso e admirável banquete como rezamos com Santo Tomás. De tradição antiquíssima, esta festa, comemorada de modo solene e pública, manifesta a centralidade da Santa Eucaristia, sacramento do Corpo e Sangue de Cristo: o mistério instituído na última Ceia e comemorado todos os anos na Quinta-Feira, após a solenidade da Santíssima Trindade. Por ela vibra o louvor em nossos corações, dado que termina o velho e dá-se início ao novo. No sacrifício de agora Jesus é o Sacerdote e a vítima, não mais só uma oferta da vítima, mas um autoofertar-se do Filho de Deus que se dá para ser comido: “tomai todos e comei, isto é o meu Corpo”, não é só uma oferta, mas um banquete, uma refeição que objetiva saciar nossa fome de paz, de justiça, de amor, enfim, de misericórdia infinita que jorra do Coração da vítima. É um tempo na celebração da fé!
Há, na presente solenidade uma tríplice eucarística: a instituição da Eucaristia, o sacrifício de Melquisedec e a multiplicação dos pães. No centro, está a instituição da Eucaristia. No domingo último nosso olhar fora atraído pelo mistério da Santíssima Trindade, nosso Deus manifesto em Três Pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo; e hoje somos interpelados a fixar-nos na Hóstia Sagrada, nosso alimento, nossa Eucaristia. É o mesmo Deus, o mesmo Amor, lá e aqui. Como ouvimos na 1ª leitura Paulo evoca este sublime acontecimento acrescentando: "Sempre que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor até que Ele venha" (1 Cor 11, 26). "Sempre", portanto também nesta tarde, ao celebrarmos a Eucaristia, anunciamos a morte redentora de Cristo e reavivamos no nosso coração a esperança do encontro definitivo com Ele, e conscientes disto, após a consagração, como que respondendo ao convite do Apóstolo, proclamamos: "Anunciamos a vossa morte, Senhor, proclamamos a vossa ressurreição, enquanto aguardamos a vossa vinda".
Nosso olhar também estende-se a outro componente da tríplice: o sacrifício de Melquisedec "sacerdote do Deus altíssimo", o qual abençoou Abrão e "ofereceu pão e vinho" (Gn 14, 18). Por este sacrifício, com referência o Salmo 109, se atribui ao Rei-Messias um caráter sacerdotal particular por direto desígnio de Deus: "Tu és sacerdote para sempre / segundo a ordem de Melquisedec" (v. 4). E ao mesmo caráter, renovado no Sumo e Eterno Sacerdote Jesus, é que somos, os padres frei Denilson e eu, também configurados. Assim, ao repetirmos as palavras de Jesus, ditas na Última Ceia, não somos nós, mas o próprio Jesus que vos fala diretamente: isto é meu Corpo, tomai todos e comei e isto é meu Sangue, tomai todos e bebei! Ao impormos nossas mãos sobre o pão e vinho, não é mais pão e nem mais vinho, mas pelo milagre da Transubstanciação, o próprio Corpo e Sangue de Jesus, para isso nossas mãos foram ungidas! Eis a necessidade de rezarmos sempre pelos Sacerdotes!
Fixemos ainda nosso olhar na narração evangélica da multiplicação dos pães que completa a tríplice desta liturgia, proposta à nossa atenção. Trata-se dum milagre admirável, que constitui como que o início de um longo processo histórico: o inalterável multiplicar-se na Igreja do Pão da vida nova para os homens de toda a raça e cultura. Este ministério sacramental foi confiado aos Apóstolos e aos seus sucessores, que no nosso tempo bem como no vindouro, fiéis à recomendação do divino Mestre, não cessam de partir e de distribuir o Pão eucarístico de geração em geração. O Povo de Deus o recebemos com devota participação. Deste Pão de vida, remédio de imortalidade, nutriram-se inúmeros santos e mártires, extraindo dele a força para resistir também a duras e prolongadas tribulações. Eles acreditaram nas palavras que um dia Jesus pronunciou em Cafarnaum: "Eu sou o pão vivo, descido do céu. Se alguém comer deste pão, viverá eternamente" (Jo 6, 51).
Após contemplar a intensa tríplice eucarística, constituída pelas Leituras que ouvimos, fixemos agora os olhos do espírito diretamente no mistério. Jesus define-Se "o Pão da vida", e acrescenta: "O pão que hei de dar é a minha carne pela vida do mundo" (Jo 6, 51). Mistério da nossa salvação! Cristo único Senhor ontem, hoje e sempre quis unir a sua presença salvífica no mundo e na história ao sacramento da Eucaristia. Quis fazer-Se pão partido, para que todo o homem pudesse nutrir-se da sua própria vida, mediante a participação no Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue.
Assim como os discípulos, que escutaram admirados o seu discurso em Cafarnaum, também nós percebemos que esta linguagem não é fácil de ser entendida (cf. Jo 6, 60). Poderíamos às vezes ser tentados a dar-lhe uma interpretação relativa. Mas isto levar-nos-ia para longe de Cristo, como aconteceu para aqueles discípulos que "a partir de então já não andavam com Ele" (Jo 6, 66).
Seja para nós, a festa de Corpus Christi, ocasião para crescermos na atenção concreta aos irmãos mais pobres, necessitados de Jesus, o Pão da Vida, mas também do pão de cada dia, como rezamos no Pai Nosso. Obtenha-nos esta graça a Virgem Maria, Senhora do Carmo, ela que foi Tabernáculo vivo da Santíssima Eucaristia!

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