segunda-feira, 10 de junho de 2013

HOMILIA NO 2º ANIVERSÁRIO DE ORDENAÇÃO SACERDOTAL

Não sou digno de que entres em minha casa...” Caríssimos filhos que a Igreja me concedeu, com essas palavras retiradas do santo evangelho desta liturgia começo esta homilia. Elas nos fazem recordar que toda vocação é dom de Deus nosso Senhor, de nós apenas se requer humildade em reconhecer que não somos dignos, mas eleitos segundo a benevolência do Pai que primeiro nos chama, depois envia para a missão.
 Esta palavra me recorda ainda o profeta Isaías que ouve a pergunta do Senhor: “Quem enviarei? Quem irá por nós? (cf. Is 6,8)” A esta pergunta resta somente uma resposta: “Eis-me aqui. Envia-me a mim (cf. Is 65,1)”. Sim, hoje tenho esta mesma disposição no coração: Envia-me a mim, Senhor, aonde tu quiseres. O padre não o é para si, afirmou o santo patrono dos párocos, São João Maria Vianney, mas é constituído em favor do povo de Deus, para o bem deste mesmo povo. Deste modo o padre é padre para a Igreja e onde a Igreja dele necessitar. Quero hoje falar-vos da pessoa do sacerdote deste sublime dom.
Esta data é para mim, motivo de muito júbilo e satisfação, nesta Santa Eucaristia, poder celebrá-la na Ação de Graças pelo meu 2º ano de vida sacerdotal. Neste processo de chamamento não podemos nos esquecer que a iniciativa é sempre de Deus, é Ele quem chama, escolhe e envia, apesar de nossas limitações, de nossas fragilidades. Hoje canto, como canta Frei Rinaldo, “a alegria do chamado, Sacerdote para sempre quero ser, seu ministro, um amigo do seu lado, que apascenta, profetiza e faz viver...”. Não importa a que somos chamados, mas é preciso contar sempre com a graça de Deus e ter a plena consciência de que “este tesouro”, isto é, este ministério, esta tarefa, este serviço “o trazemos em vasos de barro”, dado que não somos dignos de tão grande dom. É o Senhor que nos convida a subir ao seu altar.
Quando chamado ao sacerdócio nem sempre imaginamos quão imenso é este dom. Hoje já posso dizer, ainda que tenha muito por vir, “como é grande o padre! (…) Se lhe fosse dado compreender-se a si mesmo, morreria. Depois de Deus, o sacerdote é tudo! (…) Ele próprio não se entenderá bem a si mesmo, senão no céu”, como afirmou o santo Cura D`Ars. O sacerdote não possui nada de extraordinário humanamente falando. Ele é um homem retirado do meio dos homens, homem das dores acostumado em meio às mesmas dores dos seus semelhantes.
A consciência acerca da sublimidade e ao mesmo tempo da concretude do ministério sacerdotal adquirimos meditando a pobreza do Senhor. Ele nos pede a todos para sermos pobres logo na primeira Bem-Aventurança: bem-aventurados os pobres.
Há quem se pergunte se o padre é feliz, se o padre é realizado, se ele aguenta a solidão ou o celibato. Se todas estas perguntas tiverem por pano de fundo o não sofrer, não decepcionar-se, não decepcionar os outros, o não ferir-se, a não renúncia. Não há uma única pessoa que não tenha passado por estas experiências na vida. Ser feliz e realizado é outra coisa. É poder sofrer, decepcionar-se com os outros e consigo mesmo, renunciar e mesmo assim continuar caminhando porque o que motiva a caminhada é um amor que está além, que não se vê, que não se mede, que não murcha nem se mancha. Por causa desse amor eu me tornei sacerdote e é para sempre. Se eu tivesse que nascer de novo e escolher tudo de novo, eu escolheria de novo ser padre porque ser padre vai se tornando minha vida.
Quanto a esta comunidade que me acolheu logo no início do meu ministério tenho algo a dizer. O padre é um pouco do que ele consegue se construir ao longo de sua vida, com suas experiências, com o tempo de formação no seminário, mas também é um pouco do que a comunidade lhe proporciona ser. Hoje há muito de vocês em mim e muito de mim em vocês. Ninguém passa na vida do outro por acaso, como diz o poeta. Sempre leva um pouco de nós, sempre deixa um pouco de si. Aqui devo agradecer a todos. Ainda que não percebam, vocês são instrumento de Deus na minha vida, por isso eu sou grato a Deus e a todos.
No evangelho de hoje vemos que a fé do centurião de Cafarnaum é emocionante. É tenente do exército romano, “pagão”, mas estima muito o judaísmo. Sendo Jesus judeu, o centurião se julga indigno de fazer-lhe um pedido direto e manda os anciãos da comunidade judaica. Estes insistem com Jesus, e ele vai com eles. Ainda no caminho, o centurião lhes corre ao encontro: “Não, Senhor, não entre em minha casa. Eu não sou digno. Mas fale só uma palavra, que meu servo já fica bom. Pois eu sou militar, eu sei o que uma palavra é capaz de fazer quando a gente tem poder de mandar!” E Jesus cura o servo, à distância.
História emocionante, porque mostra a grande fé do homem e também sua expressão tão espontânea, nascida de sua vida profissional. “Eu sei o que é mandar!” Emocionante ainda é a simplicidade com que, primeiro, procura intermediários e, depois, corre ao encontro de Jesus. Para o evangelista dos “pagãos”, Lucas, porém, a maior emoção se encontra na palavra de Jesus: “Nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé” (v. 9). Que o Senhor nos ajude a também experimentar uma fé tal como esta do centurião, a ponto de como os sacerdotes, imolarmo-nos junto a Ele, no serviço e na caridade.

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